A rede de relacionamentos predileta dos brasileiros tem seus próprios “profissionais” da área da saúde. Geralmente são curiosos que sofrem de alguma enfermidade por décadas e decidem dividir seu rol de bobagens e tratamentos inúteis - fruto de automedicação - pelas comunidades onde são vistos como sábios e intocáveis, propagando idiotices obtidas nos piores sites e na Wikipédia. Seria um novo tipo de curandeiro? Não, simplesmente porque não curam nada. São apenas doentes (mentais?) tentando dirimir suas frustrações ao obter o posto de mestre de alguma coisa – ainda que seja mestre em propagar asneiras.
A segunda categoria são os que não conseguiram passar no vestibular de medicina e resolveram brincar de médico pelo Orkut. Algo meio fora da idade, mas que serve para alimentar a fantasia de ter uma profissão de prestígio. São enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos em radiologia, farmacêuticos, homeopatas, veterinários, quiropraxistas, pregadores da medicina ortomolecular e toda a corja que critica o Ato Médico por não entender a importância do projeto. Aqui há também os que não são de nenhuma área da saúde, mas se julgam capazes de avaliar um enfermo pela internet e de criticar o tratamento que o médico deste prescreveu com base em exames.
Os “psicólogos” de Orkut estão incluídos, sempre com frases otimistas e tolas, prontas e eficazes para todas as doenças. É como a pomada-do-peixe-elétrico-da-amazonas, vendida no centro de São Paulo por índios genéricos oriundos da Bolívia: serve pra tudo. Consolos como “existe gente pior do que nós”, “estou orando pela sua melhora”, “o importante é ser feliz” e outras de deixar Freud louco fazem parte do repertório dos psicólogos de Orkut.
Um quarto grupo é composto por uma nova espécie de copy desk dos tempos modernos, com a diferença que ele não revê os textos (nem sabe escrever). Seu trabalho é copiar e colar links de reportagens sobre pesquisas médicas e anunciar: “a cura vem na próxima edição”.
E pra completar as categorias, há a dos médicos de quinta, aqueles que mal conseguem pacientes para seus consultórios. É bem verdade que são formados e têm um número de CRM (obtido de modo duvidoso), mas eles quebram as normas dos Conselhos Regionais de Medicina (CRM) sobre diagnósticos e opiniões pela internet. O objetivo dos palpites eletrônicos é dar alguma atividade para suas secretárias caso algum membro da comunidade decida visitar seu local de trabalho.
Tornam-se mascotes das comunidades, ficando logo abaixo dos enfermos velhos e indubitáveis na tarefa de recomendar prescrições, posologias e condutas. Geralmente distribuem telefones do consultório na esperança de deixar suas salas de espera mais cheias do que as de perícia de INSS. Tudo em vão, claro, pois após oferecerem seus préstimos gratuitamente e concordarem com as bobagens dos anciões doentes para conquistar a simpatia do ciberespaço, assinam e atestam o próprio fracasso.
Os “médicos” do Orkut estão sempre prontos pra criticarem a conduta médica dentro dos consultórios, lembrarem que o diagnóstico da sobrinha da vizinha da avó deles estava errado e a matou, que remédios fazem mal (ou recomendar qual usam), dizerem que foram desenganados pelos profissionais de saúde e se salvaram sozinhos. Os membros das comunidades abandonam as consultas e passam a tirar suas dúvidas com o ‘oráculo’ do Orkut. E qualquer pessoa sã que indique seu médico ao colega ou cite seu tratamento, ouvirá um “o fulano da comunidade disse pra eu fazer desse jeito”.
Bobagens como “me expus a um possível contágio e fiz o exame de HIV no dia seguinte, mas deu negativo”, declaradas por um biólogo, são comuns. A aberração está em ninguém se lembrar da janela imunológica – nem mesmo os médicos mascotes. Recomendações de hipervitaminose no lugar da medicação tradicional, fitoterápicos e homeopáticos são tidas como o ápice do conhecimento sobre saúde no Orkut.
O Ato Médico pretende regulamentar a medicina e limitar alguns procedimentos apenas aos médicos, impedindo que qualquer profissional de branco (como açougueiro, macumbeiro, etc) exerça funções tipicamente médicas. O diagnóstico de doenças e a prescrição terapêutica são pontos cruciais do projeto. Só falta agora impedir o exercício médico ilegal virtual. Mais uma vez, digam SIM.
PARA VOTAR NO ATO MÉDICO
http://www.apm.org.br/regulamentacaodamedicina
PARA RIR: TOP FIVE DOS SITES IMBECIS
Para provar como a internet tem bobagens sobre saúde, fiz um top five. Garanto que dá próxima vez que pensar em procurar informação na internet, você marcará consulta com o médico primeiro. Só tome cuidado com quem vai escolher!
Quinto lugar:http://www.ufo.com.br/index.php?arquivo=notComp.php&id=3900
A médica Mônica Medeiros utiliza-se de um currículo respeitável (formação na Unicamp e atuação junto ao Ministério da Saúde) para dar credibilidade a um novo grupo da "medicina integrativa" presente nas cirurgias: os extraterrestres. "Achei que fosse o Gasparzinho...". Ela montou até a Casa do Consolador, onde os ET's são vistos com frequência (só por ela, evidentemente).
Quarto lugar:
http://www.universal-tao.com/article/urine_therapy.html
Foi difícil eleger um site sobre simbiose corporal, já que são muitos. Escolhi esse artigo do Cohen Van Der Kroon porque ele explica o processo de cura das doenças. O autor também promove “congressos” internacionais desta técnica naturopata. Se ainda não caiu a ficha: sim, estou falando de urinoterapia.
Terceiro lugar:
http://candidiasetemcura.com/
O site vende um livro que serviria para curar candidíase, tudo de modo “holístico” (palavra bonita, não?). Mas fica difícil falar em cura definitiva de um fungo parasita da espécie humana. Talvez o método nos transforme em E.T’s!
Segundo lugar:
http://www.curenaturalicancro.com/
Um médico de quinta descobriu a cura do câncer através do... bicarbonato de sódio. Sabe aquele pacotinho Hikari no banheiro de casa, que você usa quando tem sapinho? Pois ele cura o câncer! Baseado em quê? De acordo com o italiano Tullio Simoncini, o câncer é causado por candida albicans, o fungo parasita que todo ser humano tem - será que o método do livro do link acima curaria câncer também?
Primeiríssimo lugar:
http://www.culturabrasil.pro.br/hiv.htm
Um médico de quinta categoria ficou com o trofeu dos sites médicos – pelo menos aqui ele é o melhor... em dizer asneiras. Ele alega que HIV não causa AIDS, mas sim, a promiscuidade que os portadores de HIV têm ao se descobrirem com o vírus. Ele “argumenta” a teoria relacionando a prevalência inicial que a doença teve entre homossexuais, mas não tem coragem de ser politicamente incorreto. Prefere dizer: “pacientes que tem 20 relações anais passivas por dia”. Com direito a PT, vírus atravessando látex (o papa já havia dito isso) e vegetarianismo como forma de impedir a imunodeficiência. Tudo no ânus do “dr.” Lino Guedes Pires. Muito bom!