Quando os jornalistas desejam censurar a informação
Mais polêmica do que a CPI da Petrobrás, só mesmo o blog que a assessoria de imprensa da empresa decidiu criar este mês para publicar as respostas enviadas aos veículos de comunicação. Quem não entende como funciona o embate entre assessores e jornalistas - e entre comunicadores e os donos dos jornais - pode não compreender como um simples site causaria tanta rivalidade.
Para ser esclarecedora e breve ao mesmo tempo, podemos resumir assim: os jornalistas enviam suas perguntas (tendenciosas ou não) para a empresa ou pessoa que desejam entrevistar e aguardam a resposta do assessor, responsável por resguardar a imagem do cliente. Quando chega a resposta, a matéria já está escrita. O jornalista encaixa as explicações do "o outro lado", editadas e quase no final do texto, da forma que melhor interessar ao ponto de vista do jornal - o chamado "enfoque".
Diante do bombardeio de acusações que a Petrobrás vem sofrendo pela grande imprensa, ela decidiu contratar a assessoria da Companhia de Notícias (CDN) que, de modo espetacular e inovador, criou um blog para publicar as perguntas que os jornalistas enviam, na íntegra, e a resposta que a empresa repassa, também em sua totalidade (e que nunca é lida nos jornais).
A reação foi imediata: A Petrobrás foi acusada de romper a boa relação com a imprensa, de prejudicar a ética existente entre comunicadores e de tentar intimidar os jornalistas. A Associação Nacional dos Jornais (ANJ), A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e os jornais, como A Folha de S. Paulo e O Globo, declararam "guerra" ao blog. Mas o veículo carioca já errou em uma matéria sobre a equipe contratada pela Petrobrás. O Globo publicou que a empresa havia contratado 1150 funcionários, quando os números reais são 11 jornalistas. E os dados foram repercutidos na Folha de S. Paulo. Essas imprecisões reforçam a insegurança sobre aquilo que a mídia publica, e valoriza mais ainda o blog como ferramenta de um pluralismo de ideias e informação.
O que mais irrita os editores, jornalistas e donos de veículos é a diferença entre o que é informado nas matérias e no blog. Fica claro que há um ruído na comunicação, um desentendimento entre assessores e jornalistas e distorções em um dos lados (ou ambos). A imprensa deseja retirar o blog do ar, alegando que ele é intimidatório à verdadeira liberdade de imprensa. Na verdade, o desejo é manter a censura da informação, que hoje está nas mãos dos jornalistas. A possibilidade de perder o direito de editar os dados, já que existe um blog publicando tudo na íntegra para comparação pelo leitor, e consequentemente o abalo à credibilidade dos jornais que insistirem em maquiar suas matérias, é o que realmente está incomodando.
E enquanto a história toma mais espaço nos jornais do que a própria crise da Petrobrás, o público fica no aguardo das notícias relevantes. Talvez o objetivo do blog seja esse - o que não tira seu mérito de genialidade como estratégia de assessoria. Entretanto, apesar da revolta dos colegas de profissão, considero o blog um marco no jornalismo brasileiro e na democracia da informação. Que venham mais!
FONTES:
1 comment:
o ex-ministro concorda com você:
http://www.adnews.com.br/gente.php?id=89690
bom, apesar de não ser jornalista, "editar" faz parte do meu trabalho. a grosso modo, podemos dizer que eu edito som como meio de vida e eu bem sei que tipo de realidade deturpada a gente pode criar com os cortes certos... :)
pra variar, mandou bem no texto! ;)
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